Cá vai testamento de resposta ao seu pedido no outro tópico.
Pelo que tenho aprendido na net, estas plainas de gamas mais baixas precisam de tempo e trabalho para ficarem em condições mas se este trabalho for bem feito podem ficar umas ferramentas muito boas.
Basta ver a quantidade de marceneiros com provas dadas que usam estes equipamentos. Enquanto as plainas de gama alta já vêm de fábrica afinadíssimas, estas têm muitos defeitos que felizmente dão quase todos para serem rectificados.
Eu começo sempre por aplainar a sola ou parte de baixo(16). Nunca comprei nenhuma plaina nova mas tenho lido que nestas gamas até nas novas este trabalho precisa ser feito. É preciso uma superfície completamente lisa e plana. Eu uso duas placas de MDF grossas coladas uma no outra. Não aprecio o MDF mas é sabido que se há qualidade que ele tem é vir extremamente plano. Por cima ainda meto um vidro que tinha aqui por casa mas se não ouver vidro, uma das placas de MDF pode ter aquele acabamento tipo película que também serve. Outras opções são um vidro grosso ou uma pedra em que se tenha a certeza que está completamente plana. É mesmo importante que a superfície usada esteja mesmo plana. Eu uso uma régua metálica para verificar.
Depois é colocar lixa, que prendo com uns grampos e passar a plaina como se estívésse-mos a plainar a peça. É importante que isto seja feito com a plaina toda montada mas com a lâmina obviamente recolhida. Como só tenho comprado plainas em segunda mão em muito mau estado, preciso de retirar muito metal até a sola estar plana. Eu começo com um grão baixo, normalmente 80 ou 120 e depois vou subindo. Até ao 280 eu uso lixa em rolo que permite uma superfície maior e logo menos tempo a lixar. Costumo marcar riscos transversais em todo o comprimento da sola com um daqueles marcadores que escrevem em superfícies polidas entre mudança de lixas. Desta forma é fácil perceber as zonas onde ainda a sola não está completamente plana. Não é importante para o funcionamento mas eu levo este processo até ao grão 1000 de forma a ter uma sola quase polida. Esta escorrega melhor sobre a madeira e principalmente resiste muito mais à ferrugem. No entanto a função de planar é feita apenas com as lixas até ao 400 mais ou menos. A partir daqui é só meia dúzia de passagens para polir.
Há uma zona que pode estar convexa e se for por pouco não é muito importante que esteja 100%. É a zona a azul da fotografia.
Agora a frente, as zonas junto à boca e a periferia da parte de trás é muito importante que estejam planas.
Depois desta parte é rectificar os bordos da sola para cortar as arestas vivas do processo de fabrico e desta forma a plaina fluir sobre a madeira. Mais uma vez, nestas gamas não há muito cuidado com os acabamentos. Aqui é passar uma lima normal na aresta em toda a periferia da sola, tanto dos lados como na frente e depois passar uma lixa mais fina para polir pela razão normal da ferrugem.
O passo seguinte é desmontar o contra-ferro inferior(10). Para isso retira-se a cunha (6) levantando a alavanca(5). Retira-se a lâmina juntamente com o contra-ferro (3+4) e desapertam-se os dois parafusos que o suportam(11). e depois desapertar o parafuso 12.
Neste contra-ferro procede-se outra vez num processo idêntico ao já feito com a sola. A superfície que recebe a lâmina tem de ser rectificada visto que esta muitas vezes não vem completamente plana. A superfície em causa é esta:
Por causa da alavanca de ajuste lateral, não se consegue pousar completamente esta peça na lixa por isso tem de se fazer por partes no bordo do MDF.
Também não faz mal nenhum verificar se este contra-ferro inferior acenta bem na sola da plaina e se não balança. Eu faço isto sem os parafusos colocados. Depois disto tudo verificado é montar outra vez na plaina.
Depois temos o contra-ferro (4). Separa-se da lâmina desapertanto o parafuso (7) Aqui é muito importante lixar a superfície da frente de contacto com a lâmina. Não precisa de ser afiado como a lâmina mas quanto mais afiado, melhor irá fazer o seu papel. Eu lixo-o até a uma lixa 1000. Atenção que esta superfície tem de fazer um certo ângulo com a face da lãmina para que quando prensado pela cunha(6) toda a superfície faça contacto.
Em relação à lâmina, eu começo sempre por aplanar a frente do lado oposto ao gume. Esta face é polida até à granulometria máxima com que afio o gume que no meu caso é 12000. É crucial que esta superfície seja 100% plana para fazer um bom contacto com o contra-ferro mas só precisa mesmo de ser a parte da frente.
Por fim temos o gume. Eu uso 2 biséis. O maior ou posterior não precisa de ser muito polido. mais ou menos 800. O da frente é que é o gume e aqui é afiar tão bem quanto se consiga. Nas plainas de acabamento este gume não pode ser completamente recto. Convém ter uma ligeira curvatura nos extremos para não marcar a madeira.
Nas outras plainas convém que seja recto para maximizar a largura da lâmina.
Depois de afiada, é juntar a lâmina com o contra-ferro, apertar com força o parafuso (7) e olhar em contra-luz para verificar se não passa nenhuma luz e o contacto é perfeito.
A lâmina deve ficar um pouco avançada em relação ao contra-ferro mas mesmo muito pouco. Meio milímetro ou menos para evitar rasgar a madeira e termos uma superfície lisa.
Depois é montar tudo e trabalhar.
Não esquecer de usar cêra na sola com regularidade. Uma simples vela serve e estar sempre, sempre a passa-la durante o uso da plaina. Isto faz uma diferença do dia para a noite. Para terem uma ideia eu tenho sempre um pedaço de vela ao meu lado e passo-o umas4 vezes por minuto. Basta fazer uns riscos rápidos na sola.
Espero que consiga perceber a explicação mas se tiver dúvidas, já sabe. Acho que não me esqueci de nada. Atenção que não sou nenhum expert e tudo isto são dicas que aprendi na net. Se alguém tiver mais dicas era óptimo que as partilhasse.
Boas plainadas!