Autor Tópico: Controlo da concentricidade  (Lida 7828 vezes)

GLFaria

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Controlo da concentricidade
« em: Domingo, 16 de Março, 2014, 20:07:15 pm »
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Como o fórum tem andado um bocado "morno", aqui vai mais um contributo.

Para verificar a concentricidade do movimento do encabadouro do engenho de furar, fiz um suporte para o comparador utilizando uma poleia de madeira laminada do L-M. As fotograsfias explicam melhor do que qualquer descrição que eu consiga fazer.

Quando o comparador está em posição (não esquecer de dar uma ligeira pré-compressão, basta um ou dois milímetros), roda-se a árvore à mão pelo menos uma volta completa. O desvio total da agulha, numa volta completa, é a excentricidade total (o que nos países de lingua inglesa chamam TIR - Total Indicator Reading). Quanto menor for, melhor. Medir pelo menos na parte superior e ne parte inferior do cone.

No caso do meu, com um comparador com uma resolução de 0,01mm, não consegui detectar qualquer excentricidade no cone (tem de ter alguma, mas a resolução do meu comparador não permite medi-la). O que me levou a comprar uma bucha nova de boa qualidade, porque pelos vistos o engenho merecia melhor do que a que tinha de origem - pode não ser muito importante para furar madeira, mas para furos de 1,5 ou 2mm em metal nota-se a diferença. Na fotografia, a bucha de origem à esquerda, a nova à direita.

Já agora - este encabadouro é um cone DIN B16. Adequado para furar, não tanto para fresar; mas eu de qualquer forma não freso com este engenho para não dar cabo dos rolamentos.

pajo

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Re: Controlo da concentricidade
« Responder #1 em: Sábado, 22 de Março, 2014, 01:46:44 am »
Ora aqui está um topico importante.

Quando tiver um tempo vou fazer esta verificação.
O meu engenho Heinhell, a bucha mais pareçe um contrapezo.

Já essa bucha nova!!! só pelo aspecto ve-se que é bom material!


GLFaria, em caso de se registar empeno, isso por acaso tem alguma solução simples de correção?
Se não sabes? -não mexas!
Se não gostas? -não estragues!
Mas isso, NÃO TINHA PIADA NENHUMA!!!

GLFaria

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Re: Controlo da concentricidade
« Responder #2 em: Sábado, 22 de Março, 2014, 14:37:31 pm »
" ...em caso de se registar empeno, isso por acaso tem alguma solução simples de correção?"

Tanto quanto sei, não, pelo menos para um engenho barato como esse. Não quero com isto dizer que não tenha solução, só que não conheço nenhuma solução simples. O caso é que qualquer eventual correcção, se existisse, teria que passar por uma oficina especializada e equipada com instrumentos de controle muito precisos - muita despesa, certamente mais cara do que um engenho novo.

Com um engenho destes, se o veio estiver empenado ou o cone deformado, o mais prático é comprar uma peça nova e substitui-la.

Causas possíveis de problemas (do mais simples para o mais complicado):
- Bucha em mau estado ou de má qualidade ou com excentricidade excessiva - não basta que o cone e o veio estejam "perfeitos", se a bucha for de má qualidade pode originar problemas nos furos. Por isso, há que controlar os dois - cone sem a bucha montada, e bucha montada no veio. O método é o mesmo. Se o cone estiver bom e o resultado na bucha for ordinário, já se sabe onde há que actuar... (ou seja, compar uma bucha decente)
- Rolamentos em mau estado - desde que se consigam desmontar, e que se consigam arranjar outros com as mesmas dimensões, não apresentam dificuldade. O que é maçador é que, se não estiverem referenciados no livro de instruções, é preciso desmontá-los antes de ir procurar outros - o que significa que a reparação demora mais tempo do que o desejável.
- Folgas - o controlo com o comparador pode não dizer tudo. Para verificar sumáriamente se o veio não tem folgas, retirar a correia, baixar completamente o meio, e dar-lhe umas abanadelas para ver se mexe. Isto é mais uma constatação do que outra coisa, porque quaisquer possíveis correccções também seriam caras (a mais simples que me ocorre seria cromagem dura e rectificação, mas como não se conhecem as tolerâncias de fabrico isso teria de ser feito por tentativas - mais uma pipa de massa...)
- Veio empenado - já foi visto acima
- Cone deformado - não é boa ideia tentar mexer no cone, a não ser eventualmente dar-lhe uma limpeza com produtos não abrasivos. Se a conicidade for alterada, a bucha pode deixar de prender. A propósito, o cone do veio e o da bucha não devem ser lubrificados antes da montagem - limpar, secar bem, passar com um trapo muito ligeiramente embebido em óleo (só para não haver o risco de enferrujarem) e verificar se não ficou óleo a mais.

Cones - penso que o mais comum na Europa nos engenhos pequenos é o DIN ISO B16. Também podem aparecer Jacobs J3 ou J6. Normalmente, o tipo de cone vem gravado no corpo na bucha (mas quanto a isto, ver mais abaixo). Se não for o caso, pode determinar-se por medição do cone. Posso enviar-lhe uma tabelas com algumas dimensões, se vier a precisar.

Buchas - está na moda usar buchas de aperto manual para tudo, mas para os engenhos de furar, especialmente os mais pequenos e leves e que não têm travão do veio, essas buchas não são adequadas - nunca se consegue dar um aperto como deve ser, especialmente quando se trata de fazer furos de maior diâmetro. Também fazem perder altura de trabalho, que nunca é muita. Há buchas muito boas, construidas de forma que quanto maior o esforço aplicado na furação mais forte é o aperto. Mas essas buchas (Röhm, Albrecht) custam o equivalente a vários engenhos destes, logo... boas para uso industrial e engenhos pesados. Para engenhos normais, o indicado são as buchas com chave.

Já agora, ao encomendar ou comprar uma bucha, verificar se a inscrição que lá está corresponde ao cone que queremos. Mas é sempre boa ideia verificar se o que está inscrito no corpo da bucha corresponde de facto ao cone que a bucha contém! Por mais controlo que haja na produção - os bons fabricantes são verdadeiramente cuidadosos - a lei de Murphy funciona, e pode sempre haver algum incidente no processo de fabrico. Aconteceu-me encomendar uma bucha para a qual especifiquei um cone B16, receber por correio uma bucha identificada com B16 (gravado no corpo da bucha, não uma simples etiqueta...), e ao querer montá-la descobrir que não servia porque na realidade tinha um cone J6. Honra seja feita ao fornecedor, dois dias depois de devolver a bucha tinha cá uma nova e correcta, mas se não soubesse exactamente o que queria e o que tinha a coisa podia ter sido mais complicada.

Já vai longo, este post...