Boa noite a todos.
Sem querer levantar polémicas, tenho verificado com mágoa que em Portugal, ao contrário do que se passa em países menos desenvolvidos como Inglaterra ou Estados Unidos, há cada vez menos entusiastas das ferramentas manuais.
Uma coisa que me irrita, por exemplo, é estar a cortar a relva com o corta-relva manual no minúsculo relvado de 30m2 que tenho na minha casinha de praia, e passar algum tonto na rua, rir-se, e comentar "tanto esforço, olhe que há corta-relvas eléctricos baratos". Passou-se várias vezes. Curiosamente, são sempre portugueses, nunca se passou com nenhum turista estrangeiro, e são muitos os que lá passam. Parece que por cá as pessoas têm que ter sempre o último grito, mesmo que não se justifique (30m2, francamente!...)
Já agora,não, não tenho espaço para uma oficina, o "barraco" onde guardo as ferramentas de jardim e as ferramentas de uso geral foi feito no único cantinho possível, tem 3m x 0,75m - mal dá para andar lá dentro - e ainda por cima o ambiente é excessivamente salino para guardar ferramentas boas.
Bom, tudo isto para dizer que resolvi dar uma volta pela feira de velharias que mensalmente há em frente de minha casa. Ia ver se encontrava uma plaina de topejar boa - as pessoas, tantas vezes, não fazem ideia daquilo de que se desfazem..., ou um guilherme, ou se possível amboas as coisas. Vi várias ferramentas "velhas" em muito bom estado, que só não comprei porque, além de não ter espaço em casa (7º andar, lembram-se?), realmente não precisava delas e o dinheiro está muito caro (e raro...).
Não encontrei nenhuma plaina de topejar.
Mas... encontrei um belíssimo guilherme Stanley no. 78 novo, na caixa de origem, com todas as peças (o que é raro nestas ferramentas em 2ª mão), ainda embrulhado no papel encerado de fábrica. Por 35 euros! Está cá em casa, claro, já todo limpinho, afiado, protegido e pronto a usar.
Para quem não sabe, um guilherme é uma plaina especial para fazer rebaixos. Para poder encostar a ferramenta à tábua, a lâmina é da mesma largura que o cepo, que é reforçado por cima e aberto a toda a largura do lado do rasto (a parte de baixo). Adicionalmente, este modelo tem uma guia, para controlar a largura do rebaixo que se está a cortar, um batente para controlar a altura do mesmo, e duas posições possíveis para o ferro - a de trás é a normal, a da frente é para se poder abrir um rebaixo até o mais à frente possível se a extremidade do trabalho não for aberta.
A Stanley nº 78 foi fabricada, segundo uns, desde 1885 até 1973, segundo outros desde 184 até 1984 - seja como for, cerca de100 anos, o que mostra o sucesso que teve. Uma das maiores autoridades mundiais em plainas Stanley escreve que (tradução livre) "...quase todos os marceneiros da época tinha uma plaina destas... Qualquer entusiasta de ferramentas manuais deveria considerar esta plaina, ou outra do mesmo género, seja de um concorrente ou uma versão de madeira, como fazendo parte das ferramentas do seu arsenal".
Além desta, encontrei um outro guilherme pequeno e simples, de madeira (mogno?), com um desenho muito tradicional, que achei muito bonito e era barato, que também comprei. Mas esse, ao contrário do Stanley, não é para usar, é para apreciar.
Finalmente, vi duas garlopas de madeira, tradicionais, em muito bom estado, madeira bonita uma delas com o punho trabalhado, e nada caras. Estive sériamente tentado. Mas, novamente, não as ia utilizar, não tinha espaço para as guardar, e já tinha gasto o que podia. Mas algum dia hão-de aparecer outra vez (como disse acima, as pessoas não sabem aquilo de que se desembaraçam , e além do mais hoje em dia ninguém usa plainas de madeira), e pode ser que nessa altura...
No fim deste testamento, não podia deixar de anexar fotografias das minhas novas ferramentas.
Na primeira, a Stanley vista do lado esquerdo. Vê-se a guia (que também pode ser montada do lado direito) e os dois alojamentos para o ferro e a guia.
Na segunda, vista do lado direito. A peça que se vê perto da parte da frente, fixada com um parafuso, é o batente para limitar a profundidade do rebaixo.
A terceira é o guilherme de madeira. Bem bonito na sua simplicidade.
Se alguém quiser algum esclarecimento, é só dizer.
Estou agora a ver um anúncio aqui em baixo. Ferramentas a 1 cêntimo!?... Quem está a querer enganar quem?
G.