Outro “post”…compridote! As minhas desculpas, sou sempre muito “descritivo” (falo pouco, mas a escrever…)
Quando passei a dispor de mais tempo para usar ferramentas, achei que precisava de um maço de madeira de tamanho médio para usar com os formões (até então, usei durante anos um de borracha muito desajeitado). Pensei fazer um, mas tinha outros projectos em curso ou com mais prioridade, por isso comprei um “já feito” na loja de ferragens do bairro. Feio, cabeça tipo barril, mal acabado, mas parecia servir.
Depois de o usar uns tempos, senti necessidade de o modificar para ficar mais funcional. Básicamente, dar ângulo às faces, porque trabalho com pancadas ligeiras a partir do cotovelo e do pulso, e tal como estava o maço obrigava-me a torcer o pulso para bater como deve ser. E fazer umas faces no cabo, porque quando o usava nunca conseguia sentir se estava bem orientado.
Quando comecei a cortar a madeira vi que era bonita, por isso resolvi levar a modificação mais a fundo. Normalmente, dou sempre prioridade à função relativamente à forma – por isso os meus “produtos finais” não costumam ser “bonitinhos”. Mas como, desde que a função seja assegurada, também não faz mal que as ferramentas tenham bom aspecto, achei que podia gastar um bocado mais de tempo e divertir-me com isso.
O resultado está nas fotografias anexas (antes e depois; algumas das "antes" só foram tiradas depois de começar a cortar).
O maço pesa agora 400 gramas, que era aproximadamente o meu objectivo. Como quando acabei de cortar a madeira estava um pouco mais leve do que queria, fiz dois furos na cabeça e enfiei em cada uma delas uma cavilha feita com varão de latão, coladas com epoxy. As cavilhas atravessam a cabeça de lado a lado (por isso pedi ideias para as colar sem sujar a madeira, porque o acabamento já estava práticamente...acabado; obrigado, pajo! Aquela sugestão foi preciosa). As cavilhas acrescentaram 35 g ao peso do maço.
O cabo é um pouco mais comprido do que o necessário. Normalmente, pego neste maço pela parte alargada do meio (dá pouco balanço, mas é para usar principalmente em trabalho ligeiro e delicado). Mas achei que não ficaria estéticamente satisfatório se o cortasse a meio caminho entre essa parte alargada e a extremidade, por isso deixei-o com o comprimento original.
O remate do cabo era feioso (ver fotografia antes), por isso cortei-o e acrescentei uma fatia de… não vou dizer que madeira, para não me chamarem nomes… Antes de cortar, fiz um furo no topo para ter a certeza de conseguir alinhar as peças, e fiz uma cavilha de mogno para assegurar o alinhamento. Colei o conjunto com cola PVA. Devo ter borrado um pouco a coisa, porque a zona à roda da cavilha ficou mais clara depois do acabamento (ver fotografia depois).
Um “defeito” que não consegui corrigir (teria práticamente que fazer um maço novo) foi a forma como o cabo é fixado à cabeça – enfiado por baixo e expandido pelo lado de cima com uma cunha de madeira. Se fosse como deve ser, o cabo deveria entrar por cima e ter a parte superior em forma de cunha, para não haver a possibilidade de a cabeça sair por cima. Ainda antes de começar a modificação verifiquei que, com o uso que já lhe tinha dado, a cabeça estava a começar a sair, por isso encaixei bem as peças, fiz um furo passante de 8mm e uma cavilha de cedro, e fixei o conjunto com cola PVA.
Não me esmerei tanto na preparação da madeira como faria se estivesse a preparar uma peça decorativa. Às tantas, pensei: “tenho de parar de pôr isto bonitinho, senão depois não me atrevo a usar, e isto é uma ferramenta de trabalho – para dar pancadas, ainda por cima”! Digamos que ficou razoável, mas sem pretensões.
O acabamento é óleo. Em vez de óleo de linho, resolvi experimentar um resto do óleo Behandla que vendem no IKEA para proteger os tampos de cozinha de madeira. Já tinha aberto a lata há mais de um ano e o prazo de validade estava mais do que ultrapassado (na verdade, estava com um ar um bocado “suspeito”), mas resolvi arriscar, e acho que resultou bem.
Este produto é uma mistura bastante líquida de óleo de tung, óleo de linho, e não sei quantos produtos mais. Como é muito líquido, é absorvido muito rápidamente pela madeira (suponho que seja propositado, para os tampos de cozinha não demorarem muito tempo a secar). Mas como o óleo de tung não escurece tanto a madeira como o óleo de linho, não ficou mal.
Não usei tapa-poros, ou antes, tapei os poros lixando com lixa P400 o óleo fresco, quando o apliquei, durante a 4ª e a 5ª aplicação.
Para as duas camadas finais de acabamento e polimento fiz uma pasta com óleo de linho refinado e tripoli (um pó muito fino, menos abrasivo do que a pedra-pomes, que é utilizado no polimento de madeira e de metais); diluí o óleo em partes iguais com essência de terebintina. Para acabamento final e conservação, cera para móveis (agora, só falta ver se escorrega ao ser usado!…)
Claro que, com tudo isto, o processo de modificação demorou um par de meses ou mais. Não sei quantas aplicações de óleo fiz, talvez umas 15, deixando curar entre aplicações (na fase inicial 24 horas entre aplicações, mais para a frente 2 a 4 dias, as duas últimas uma semana).
Isto também foi uma experiência – queria ver se o óleo do Ikea servia para estas aplicações. Vejo que serve para acentuar os veios da madeira, mas pelo menos com o número de aplicações que fiz não parece formar uma película superficial, como acontece com o óleo de linho. Há muitos anos que não fazia um acabamento a óleo, até foi divertido. Pode ser que inspire alguém a meter-se neste tipo de trabalhos.
Mas agora o maço já me estava a fazer falta. E tenho de começar a usá-lo, senão ainda crio estimação por ele…
Ah, quanto à madeira de que é feito. Não sou própriamente especialista nesse assunto. À vista, diria que a cabeça parece carvalho, mas não estou certo; quanto ao cabo não sei de todo que madeira é. Alguém me pode ajudar a identificar as madeiras, olhando para as fotografias? Agradeço.