Boas a todos!
Motivado pela excelente recepção que me deram, fica mais uma apresentação do meu curto portfólio.
Desta vez a minha serra circular de mesa. Aviso que vem testamento.


A serra estava perdida no armazém da empresa do seu sogro e foi talvez o "clic" final que me fez iniciar nisto dos trabalhos em madeiras. Pensava eu quando a vi que tudo ia ser fácil e rápido e um simples banco de jardim era coisa para demorar uma tarde. 3 meses depois de ter a serra ainda nem o tinha começado, mas isso são outras contas.
A serra é mesmo do piorio que se pode arranjar. É daquelas que custam cerca de 40/50 euros e não a aconselho a ninguém.

Para além de muito pequena e sem guarda ou guia, não permitia o ajuste em altura o que também limita a funcionalidade.
O primeiro problema foi o disco da serra. Aquilo abanava mesmo muito. Tirei-o para fora e reparei que não estava empenado, mas os batentes que o seguram tinham uma descalibração tal que o disco abanava vários milímetros a cada volta. Visto que vivemos num pais onde os trabalhos manuais estão em extinção e são mal apreciados, e não encontrei um torneiro para me arranjar os batentes, resolvi arranja-los eu com uma simples lixa de papel. Depois de dezenas de tentativas a lixar, instalar e verificar o disco e retomar tudo de novo lá consegui um resultado muito satisfatório. Possivelmente com instrumentos rigorosos ainda terá algum empeno mas a olho nu está impecável e mais importante, faz um corte fluido.
O outro problema era o disco propriamente dito. Para além de ter apenas 184mm, tinha um desenho de dentes que já não se usa e pouco eficiente. Na lateral da serra diz que permite discos até 210mm mas para não estar a meter um no limite o que poderia trazer problemas de rigidez, meti um de 200mm o que já me deu mais 15mm de corte e com uns dentes mil vezes mais eficientes que o original. Tanto em velocidade como limpidez do corte.
Resolvidos este problemas, tratava-se de proceder à construção duma mesa que não só me trouxesse a serra para uma altura confortável de trabalhar, mas acima de tudo que lhe acrescentasse funcionalidade para dentro das suas limitações se transformar numa ferramenta minimamente útil.
O tampo ficou com 78 por 115 centímetros. Não é nehuma bancada profissional mas já me dá uma área muito considerável para os meus trabalhos e neste aspecto cumpre a 100%. Acoplado ao tampo criei uma guarda de guia para cortes longitudinais. Esta deu um trabalhão a meter à esquadria com a serra mas no final ficou bem. Fiz-lhe um sistema simples de aperto com ferragens básicas e depois de apertada fica completamente inamovível. Ainda pensei em meter uns contrafortes para assegurar a verticalidade da guarda mas a verdade é que só como está na fotografia, esta verticalidade manté-se firme; pelo menos até à data.
Esta guia foi feita com aglomerado duma secretária velha que ia para o lixo. Está direita e é polida o que ajuda no deslizamento da madeira.
Pormenor da guia desta guarda:

Para além da guia principal fiz duas calhas paralelas à lâmina para acoplar outros engenhos auxiliares. Em Inglês eles chamam-lhes "Jigs". Alguém sabe se há uma palavra em português para designar estes engenhos?
Estas calhas foram feitas com uma tupia e depois aparafusei uns perfís de alumínio. Aqui, o resultado não cumpre a 100%. Estes perfís de alumínio têm pouca espessura e consequentemente pouca rigidez e na realidade a dimensão da abertura varia uns décimos ou centésimos de milímetro mas o suficiente para as calhas não deslizarem facilmente. Já vi à venda em sites internacionais de ferramentas calhas apropriadas para estas mesas, mas para a serra em causa parece-me que não justifica. Fora este aspecto, consigo usa-las com alguma eficiencia e comparando com mesas de 200 ou 300 euros que vejo à venda, estas calhas não perdem em nada.
Apresentação dos meus "Jigs", sendo que aqui há um mundo de ideias de engenhos para tudo e mais alguma coisa e com o tempo, mais irão ser acrescentados.
Simples com uma só calha para cortes transversais. Por só ter uma calha, ele abana um bocadinho e com isso perde-se rigor. Uso-o bastante por ser o mais rápido de usar e por vezes há peças ou fases dos trabalhos onde o rigor ainda não é imperativo.

Este é identico, mas com duas calhas. É mais perro que o anterior e logo mais lento, mas o corte fica a 90 graus rigorosos.

Tabuleiro. Muito útil em algumas aplicações e tenho planos para mais uns jigs para usar em conjugação com o mesmo.

Este é evidente. Para cortes a 45 graus.

Este serve-me para segurar tábuas que não tenham uma única face 100% plana e com ele conseguir rapidamente essa face. Também dá para cortar longitudinalmente pequenos ângulos próximos dos 90 graus. Mais ou menos de 80º para cima.

Para já são os que tenho. A grande vantagem destas mesas é que dá para fazer imensos engenhos que respondam a necessidades específicas e tenho a certeza que com o tempo irei fazer mais.
A mesa é em pinho com 2 demãos de óleo de teca e depois mais duas de verniz. O tampo é em MDF com a moldura em contraplacado. Também com verniz excepto o topo do tampo. No futuro pretendo fazer um armário para meter por baixo e possivelmente um sistema para ligar um aspirador. Também meti umas rodas em duas pernas viradas para o lado para poder deslocar a mesa levantando as outras pernas opostas mas que esta fica apenas acente nas pernas quando poisada.
Os "jigs" foram quase todos feitos com restos de madeiras e embora possam ter um ar tosco, garanto que as faces que interessam e os alinhamentos estão rigorosos.
No total gastei entre o disco da serra e as madeiras uns 80 euros. A serra como já expliquei foi de borla. No final estou contente com o resultado. A mesa, posso dizê-lo com confiança, é melhor, maior e mais funcional que qualquer mesa de serras até os 300 euros. Mas a serra é mesmo muito fraca e se for para comprar não aconselho esta gama. Como vem de origem é praticamente inútil e um par de serrotes cortam mais rápido e muito melhor que esta serra. Para mim, a maior limitação para além da dimensão reduzida do disco é o facto de não poder ajustar a sua altura. Mesmo com o disco de 200 mm tenho uma altura de corte real que não chega aos 4 centímetros. Invertendo as peças e cortando dos dois lados consigo cortar peças de 8 centímetros, mas com 150 euros já se compra uma serra deste tipo com 250 milímetros de diâmetro e com ajuste em altura para além da inclinação que a minha também faz.
Neste momento o meu dilema é se continuo e investir tempo nesta mesa ou compro outra serra melhor e faço outra mesa. Para já, sei a resposta. O dinheiro não estica e esta tem desenrascado.

Espero que gostem. Peço desculpa pelo testamento e aguardo as vossas críticas.
Abraço a todos e boas bricolages!