Afiar é um tema que tem muito que se lhe diga. Nem vou tentar abordá-lo a fundo, há alguns bons livros.
É necessário entender uma coisa fundamental - um bom afiamento implica que as duas uperfícies que formam o gume estejam muito bem polidas. Se não, o que se obtém não é um verdadeiro gume, é uma serra microscópica, que não permite os mesmos resultados. Para conseguir isso, o grão dos abrasivos utilizados tem de ser cada vez mais fino; o aspecto final das superfícies deve verdadeiramente espelhado.
A maior parte das pedras ou lixas que se podem comprar por aí não cumpre isto. Isto inclui as Faithful (aliás, ao preço que custam nem poderia ser de outra maneira). Nas pedras, encontrar um grão mais fino do que 800 (as graduações são diferentes das da lixa) obriga a procurar em sítios especializados - para ir até ao grão 4000 ou 6000. E as boas são caras que se fartam (ver, por exemplo, aqui:
http://www.fine-tools.com/scharf.html - mas há muito mais onde).
Quanto às lixas, para conseguir encontrar grão mais fino do que 1200 tenho de encomendar, mas não consigo mais fino do que 2500.
Em princípio, nenhuma pedra deve ser utilizada a seco. A função da água ou do óleo é formar uma suspensão com as partículas de material que são removidas da ferramenta, de forma que não fiquem embebidas na pedra e a pedra não se "vitrifique" (não é o termo correcto, mas é o que me ocorre de momento).
As pedras "de água" ("waterstones") devem ser utilizadas
exclusivamente com água. Se se utilizar óleo ficam práticamente inutilizadas. Antes de usar, mergulhá-las 20 ou 30 minutos em água para ficarem bem embebidas.
As pedras "de óleo" ("oilstones") devem ser utilizadas com óleo fino (há quem o dilua com petróleo, nunca experimentei), e devem ser sempre mantidas bem embebidas com óleo.
Qualquer pedra tem de ser rectificada com uma certa frequência para manter a planimetria - o que é um bocado aborrecido...
Relativamente aos comentários de nassuncao acerca das guias:
O rodízio estreitinho, em geral permite, se se quiser, afiar um ferro de plaina com uma ligeira curvatura para ser for utilizada em desbaste. Nos formões só atrapalha, porque exige um bom controlo da mão, que um principiante não tem. Aí, os rodízios largos têm vantagem.
3 mãos: não é preciso, desde que se faça um dispositivo que permita acertar o ângulo controlando a distância à parte da frente da guioa. Ver a fotografia que anexo do dsipositivo que fiz.
Ver uma solução mais refinada e completa, segundo o mesmo princípio, aqui:
http://www.lie-nielsen.com/pdf/AngleSettingJig.pdfPessoalmente, porque as pedras boas estão acima do meu orçamento e por simplicidade, utilizo o método que uma mente típicamente americana baptizou de "scary sharp", com tiras de lixa coladas (com uma cola spray que permite removê-las) a uma placa de vidro de 8mm. Não é muito bem visto pelos profissionais - embora saiba de pelo menos um ou dois profissionais americanos que utilizam exclusivamente este método - mas sem dúvida que resulta. Gasta-se dinheiro em lixa, mas evita comprar e ter de rectificar pedras caras.
Para ter uma ideia do método, ver aqui:
http://www.woodbutcher.net/scary-origins.shtmlhttp://www.woodbutcher.net/scary.shtml#originalhttp://www.finewoodworking.com/pages/w00003.aspUtilizo uma guia Stanley (modelo antigo) - que, embora ordinária, é a que vou utilizando até fazer uma guia que satisfaça os meus critérios (o primeiro dos quais é que os rodízios não apoiem no abrasivo, seja ele qual for...)
Em geral, nos formões, se tenho de começar de raíz, faço um desbaste na esmeriladora (grão 76). Resulta no que os anglo-saxónicos chamam "hollow-grind". Nos ferros de plaina vou directamente à lixa. Se tiver de desbastar muito, começo com grão 200, senão vou directamente à ixa de água grão 400, com um ângulo de 30 graus. Passo sucessivamente aos grãos 600, 800, 1000 e 1200 e 2500 (a partir do 1200 passo o ferro "de lá para cá...", senão o suporte da lixa pode ser cortado com muita facilidade).
A partir do 1200 inclusivé passo o ângulo a 25 graus, e dou poucas passagens para não fazer o bisel de corte muito grande.
Depois de estar a contento no 2500, assento o fio num assentador de cabedal feito por mim; inicialmente não utilizava qualquer produto de polimento no assentador, actualmente utilizo óxido de cério - apenas porque resulta e tenho uma certa quantidade em casa (não é produto que se consiga obter fácilmente no comércio). Embora algumas pessoas digam que o assentador pouco faz, a verdade é que noto uma diferença bem perceptível na qualidade do fio.
É pouco sobre este tema, mas há por aí tanto que ler se se procurar (e na internet, como sempre, também há muitas asneiras).