Autor Tópico: Stanley nº 78  (Lida 8251 vezes)

GLFaria

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Stanley nº 78
« em: Quarta, 30 de Janeiro, 2013, 03:43:04 am »
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Continuo a pensar que não há no fórum muitos interessados em ferramentas manuais, mas para os raros que estejam a pensar eventualmente comprar uma plaina de rebaixos Stanley #78 aqui vai algum "feedback".

A primeira vez que utilisei a minha tive uma trabalheira para conseguir uma afinação mínimamente aceitável Resolvi demontá-la toda e verificar peça a peça. E arranjei uma data de trabalhos...

Tenho que reconhecer que o nosso caro Cerdeira tem razão quando considera (ou assim me pareceu) a #78 um bocado rústica. É, sem dúvida. Ao longo dos seus 100 anos de existência tem feito um bom serviço a muita gente. Mas quando se começa a querer que fique como deve ser...

Aqui vai:

Ferro
O ferro não vem plano nem polido. Habitual nos ferros de 2mm da Stanley. A preparaçao geral é a standard, com a excepção do promenor da geometria do gume. Há várias teorias relativamente a esta plaina específica - gume a 90º, gume inclinado ("skewed"), gume mais largo do que o resto do corpo do ferro, lados do ferro com uma ligeira "saída" para facilitar o deslize na face lateral do rebaixo...
Como a afinação desta plaina não é fácil - folga-se a placa e tudo mexe para todos os lados - e verifiquei que o ferro tem de origem uma "saída" de uns 5º de cada lado (para poder ser usado à esquerda e à direita), optei por afiar a 90º, sem mais requintes.

- Corpo - a planimeria e a esquadria dos lados relativamente ao rasto era boa. O acabamento era muito áspero o que, entre outras coisas, facilita a criação de ferrugem. Tudo passado por lixa de água 600 assente numa placa de vidro, ficou aceitável. Não mexi na cama do ferro porque me pareceu aceitável e o resto estava muito pior... (ver fotografia 001)

- Batente de profundidade - a superfície necessitou apenas o mesmo tratamento que o corpo (lixa 600) (ver fotografia 001)

- Alavanca de afinação da profundidade do ferro - aqui começaram os trabalhos. A fenda era muito estreita, ou tinha levado uma pancada, não agarrava bem todas as ranhuras do ferro (que, aliás, tinham espessuras varíáveis...) portanto o movimento não era muito consistente. Alarguei ligeiramente a ranhura e corrigi a forma com uma lima de calado, ficou a funcionar bem (fotografia 002)

- Placa e parafuso de fixação do ferro - aqui então passamos aos trabalhos a valer.

a) a cabeça do parafuso tem uma parte ligeiramente cónica, que é suposta, penso, entrar num alojamento na placa. Só que o alojamento não existia - a parte cónica da cabeça do parafuso assentava directamente nos lados do rasgo da placa. Resultado- ao apertar, a placa mexia-se de uma forma mais ou menos aleatória. Resolvi montar a placa no engenho de furar e fazer um alojamento com um escariador. E aqui é que a porca toce o rabo - o metal da placa é duro que se farta. Depois de muito trabalho e com a ajuda de um rascador acabei por conseguir fazer um alojamento "mais ou menos" - mas dei cabo do escariador (nem vou tentar recuperá-lo, no estado em que está) e tive de afiar a fundo o rascador. Deve ser por isso que existem uma arranhadelas, que já não tive paciência para tirar, na superfície cónica da cabeça do parafuso - a placa é tão dura que o riscou (fotografia 003 - do lado esquerdo, o parafuso e a placa tal como vinha de origem; do lado direito, o alojamento escariado na placa e o parafuso montado no alojamento)

b) planimetria e geometria da zona de assentamento da placa no ferro - uma verdadeira desgraça. Não sei se a desgraça era da pintura ou da peça em si, porque não consegui entrar lá com uma lima. Como considero este um pormenor importante da plaina, foi directamente para a placa diamantada até estar mínimamente aceitável. Não tentei tirar todas as marcas de poros da fundição - teria ficado sem placa.  Limitei-me a obter uma superfície genéricamente plana, o suficiente para um aperto correcto (fotografia 004 - a zona de assentamento da placa antes e depois...)

- Guia - mais trabalho. Como já tinha mencionado há tempos (ver o tema "feiras de velharias"...), a face de encosto da guia não estava à esquadria com o rasto da plaina. Ao que parece, é relativamente frequente (ou, mais precisamente, parece ser a regra..) nas #78. Como esta esquadria é importante para obter rebaixos correctos, resolvi corrigi-la. Pensei inicialmente em fazer uma sobre-guia de madeira, acabei por optar por desbastar a face de encosto da guia na placa diamantada até estar como deve ser, após o que lhe dei o "tratamento" com a lixa 600(fotografias 001-acabamento e 005-esquadria corrigida)

Depois disto tudo, tenho uma plaina mínimamente capaz. Não excluo que possa vir a encontrar mais alguma coisa que não goste! Ainda pensei imaginar e fazer um sistema de afinação lateral do ferro, que não existe na #78 - e, como já disse, quando se folga o parafuso de aperto da placa tudo mexe. Mas já não tive paciência. Fica para uma dia (improvável) em que esteja com pouco que fazer e tenha muita paciência...

Agora, quem quiser comprar uma Stanley #78 já sabe ao que vai e não pode alegar desconhecimento...

Divirtam-se  ;)

Ah, e se quiserem que deixe de falar em ferramentas manuais estejam à vontade para dizer...

G.

cerdeira

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Re:Stanley nº 78
« Responder #1 em: Sexta, 01 de Fevereiro, 2013, 12:51:41 pm »
Eu tenho essa plaina. é uma ferrementa de carpintaria e nao de marcenaria, mas consigo resultados muito aceitáveis se a madeira tiver fio direito

Os problemas que lhe encontrei são:

- o facto de ter uma boca muito larga que não permite trabalhar madeiras dificeis sem esmilhar, e qdo acontece é com dimensão considerável ao ponto de comprometer o acabamento do trabalho. mas se for para pintar, ou num local não visível, nao ha problema.

- a peça que segura o ferro está maquinada do lado esquerdo (visto de tras) mas como sou canhoto é esse lado que fica encostado à parede do rebaixo. na minha acontece q essa peça nao estava maquinada o suficiente e sobressaia de mais para alem do lado do ferro. consequentemente tive q lhe desbastar um pouco de metal.

reconheço que o rasto pode beneficiar duma rectificação se estiver curvo, e mesmo estando plano se for polido, vai deslizar melhor,

mas nos outros aspectos que refere, nunca tive problemas e julgo até que são uma questão de zelo demasiado acerca da precisão de maquinação da ferramenta (é uma atitude mto comum em alguns membros de foruns anglo-saxónicos).

vejamos:
a capa do ferro: estive a ver na minha e tem os mesmos "problemas", o furo nao está escariado e a superficie inferior nao é maquinada. todavia só o extremo inferior da capa vai prender o ferro, com o auxilio do parafuso de ajuste q a vai alavancar, pelo q nao constitui um problema (o ferro da minha nunca saiu do sitio)

a paralela: nao causa qualquer problema estar ligeiramente fora de esquadria, isso so muda a superficie de contacto com a peça a trabalhar, mais acima ou abaixo, nao faz diferença.

o q pode constituir problema é se a paralela nao é "suficientemente" paralela ao corpo da  plaina, ou se a haste de fixação nao é rigida  e permite a plaina flectir ou avançar de "esguelha". isso pode criar um rebaixo de largura nao uniforme. mas como a parede do rebaixo nunca fica muito perfeita, podemos contar q se quisermos um melhor acabamento ter-se-á q fazer uma ultima passagem do rebaixador desta vez para alisar a tal parede


GLFaria

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Re:Stanley nº 78
« Responder #2 em: Sexta, 01 de Fevereiro, 2013, 18:43:09 pm »
Ah, mas as minhas origens estão na metalomecânica de precisão!...

A marcenaria para mim é estritamente passatempo e está no começo, logo vou-me divertindo também com o que conheço melhor. Pode ser que o interesse pela precisão mecânica passe com o tempo (mas não é natural...)

G.

pajo

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Re:Stanley nº 78
« Responder #3 em: Sábado, 02 de Fevereiro, 2013, 01:54:56 am »
Aqui por casa, temos este objecto de estimação!


Já tem uns Kms. valentes, é afiar e andar (desbastar)

Mas é conhecido por Guilherme.

Muito util em carpintaria de limpos, portas e janelas, etc.
« Última modificação: Sábado, 02 de Fevereiro, 2013, 01:58:09 am por pajo »
Se não sabes? -não mexas!
Se não gostas? -não estragues!
Mas isso, NÃO TINHA PIADA NENHUMA!!!

GLFaria

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Re:Stanley nº 78
« Responder #4 em: Sábado, 02 de Fevereiro, 2013, 02:55:45 am »
É um guilherme, sim (boca aberta de lado a lado). E é uma Stanley #78. Não é exactamente fabricado com o objectivo de desbastar, mas como não sou eu que o uso... :)

Posso sugerir que nunca assente a plaina assim (rasto para baixo), pelo menos se o ferro estiver saído?

E nunca a guarde durante alguns dias assente sobre o rasto, a menos que a superfície deste esteja bem oleada (mesmo que o ferro esteja recolhido); como o pessoal que já teve de armazenar vidro saberá bem, a humidade tem um jeito danado para se infiltrar por capilaridade nos espaços muito estreitos, e depois...ferrugem (ou, no caso do vidro, irisação e colagem...)

G.

G.

pajo

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Re:Stanley nº 78
« Responder #5 em: Sábado, 02 de Fevereiro, 2013, 19:52:37 pm »
Quanto a isso tem toda a razão, mesmo em trabalho tenho o habito de poisar sempre de lado, desta vez foi só mesmo para a foto.
Como por aqui a garagem é de multi usos, algumas ferramentas têm de  ter lugares especiais para ser guardadas, ex. as de carpintaria (plaina, guilherme, serrote costas etc) são guardadas na caixa plastica dedicada á carpintaria.
Tão mau como a humidade seria faulhas de rebarbadora.
CumprimenTTos
Se não sabes? -não mexas!
Se não gostas? -não estragues!
Mas isso, NÃO TINHA PIADA NENHUMA!!!