Há uns meses apresentei uma modificação que fiz no batente de profundidade do meu engenho.
Como é uma máquina muito pequena e ordinária - embora, para meu espanto, bastante mais precisa do que supunha - está mesmo a pedir várias modificações mais, algumas das quais já fiz. Vou apresentar uma decada vez, em vários posts, para fazer render o peixe (e porque escrevo sempre muito...)
Desta vez - o "interruptor".
Na maioria dos engenhos pequenos que tenho visto, pelo menos nos mais antigos, a botoneira (na realidade um relé, mais adiante explico porquê), que liga/desliga a máquina está colocado do lado oposto ao mecanismo de subir/descer a árvore que leva a bucha. Se, como acontece tão frequentemente quando se está a furar madeira, estivermos a segurar a peça com a mão esquerda, esta posição do interruptor é potencialmente perigosa porque, para parar, das duas uma: ou se retira e larga o material que se está a furar, com o engenho ainda a funcionar - o que é muito, muito má prática - ou se dá a volta com o braço direito por cima do engenho para carregar no botão de desligar, o que pode ser ainda pior porque deixa de se ver o trabalho. Numa situação de emergência, como já me aconteceu, a coisa pode tornar-se ainda mais complicada e perigosa.
Resolvi transferir a botoneira para a parte da frente do engenho, como é posicionada nos engenhos maiores.
Para isso, tive de fazer uma caixa onde coubesse a botoneira e fixá-la ao corpo do engenho. A caixa é de contraplacado (diversos pequenos retalhos que cá tinha), com uma frente de PVC. A razão de usar o PVC foi apenas porque o contraplacado era grosso demais e excessivamente macio para fixar correctamente a botoneira. Não há problema em usar contraplacado - a corrente de funcionamento é muito fraca, só 1,2 Ampéres (motor de 250W). E envernizei-o, para não dar origem a poeiras.
A cablagem está com um aspecto um bocado ordinário mas é segura. Como não consegui retirar os terminais da botoneira, e tive medo de a estragar se forçasse, resolvi não substituir a cablagem de origem. Cortei os cabos e prolonguei-os com cabos do mesmo calibre dos de origem (0,75mm2 !) com emendas soldadas, que protegi com tubo termo-retráctil. Na zona das emendas mais perto da botoneira ainda consegui arranjar espaço para um segundo tubo termo-retráctil a cobrir os pares de cabos emendados por cima dos isolamentos que já tinha aplicado nos cabos individuais. Do outro lado não tinha espaço para poder usar o segundo tubo retráctil de protecção sobre o conjunto dos cabos, pelo que tive de reforçar a segurança com um bom "embrulho" de fita isoladora. Não é bonito, e industrialmente é uma verdadeira "nódoa", mas faz adequadamente a função, que é evitar que o isolamento dos cabos se possa eventualmente desgastar ao roçar nas arestas com as vibrações da máquina em funcionamento.
O que dá um aspecto mais ordinário à coisa é aquele cabo de terra (o amarelo e verde) do motor, que ficou à vista porque havia um ponto de ligação à massa no interior da carcaça, que eu quis aproveitar para não ter de fazer mais um furo roscado (aquele engenho qualquer dia parece um queijo Gruyère), e por isso tive de separar esse cabo dos restantes, e fazê-lo entrar por onde era possível. Tudo teria sido mais simples se tivesse podido substituir toda a cablagem.
Já agora - este trabalho não foi só electricidade. A fixação da nova caixa da botoneira é feita com parafusos M4. Como não gosto da ideia de furar e roscar deixando cair as aparas para dentro da máquina, tive de desmontar a parte mecânica toda para deixar tudo limpo por dentro. Aproveitei para limpar e lubrificar todas as peças, coisa que já devia ter feito há muito tempo.
É possível que a alguém ocorra a dúvida - porquê usar a botoneira com um relé, e não um simples interruptor? É uma questão de segurança. Se usar um interruptor simples nestas máquinas que se podem ligar e desligar da tomada, há o risco de alguém inadvertidamente actuar o interruptor, e deixá-lo na posição de ligado. Na altura não se dá por nada, mas quando se meter a ficha na tomada a máquina começa imediatamente a trabalhar. Com um relé isso não acontece - se não tiver corrente, o relé automáticamente desliga, e não volta a poder ser ligado de novo enquanto não estiver novamente ligado à corrente.
Anexo fotografias para se perceber melhor o que descrevo. Uma mostra a situação original, as restantes o resultado. Anexo também uma fotografia da botoneira para verem porque é que precisei de fazer uma caixa tão funda.
Na última foto, além do cabo "embrulhado" em fita isoladora e do mal-parecido cabo de terra a vista, pode ver-se uma modificação que fiz à articulação da montagem do motor. Onde antes eram dois parafusos e montes de folgas na montagem (ver foto da situação original), passei uma broca de 8mm no furo roscado superior e passei a usar apenas um parafuso M8x100 de cima a baixo, aparafusado só embaixo, com uma contra-porca.
Espero que achem interessante.
E, Pajo, você que sabe mexer nestas coisas podia fazer uma modificação deste género no seu engenho, que se bem me lembro é semelhante ao meu mas um pouco mais potente (350W). Claro está que se prender sempre as peças num torno (apertadeira, lembra-se?...) não precisa, mas por algum motivo não acredito que isso aconteça.