Mais um “post” comprido, como os meus são habitualmente. Mas é por uma boa causa.
O sistema de ajuste do batente de profundidade, com porca e contra-porca, da maioria dos engenhos de furar básicos, incluindo o meu, sempre me irritou. É práticamente impossível qualquer precisão no ajuste, é necessário usar chaves de bocas se quisermos dar um aperto firme, se quisermos simplesmente apertar à mão o espaço para os dedos é muito reduzido e a precisão reduz-se ainda mais, a haste roscada tem tendência a desapertar-se com toda a facilidade, etc.
Resolvi fazer um sistema diferente para o meu engenho. É relativamente simples, embora se se trabalhar apenas com serra e lima, como eu fiz (além do engenho para fazer os furos) dê algum trabalho. Também exige um pouco de prática de trabalhos deste tipo, mas nada do outro mundo. Aqui vai a descrição com fotografias para quem quiser aproveitar a ideia.
Os materiais utilizados saíram todos do meu repositório de “resíduos”, pelo que nem sempre foram os que utilizaria de preferência. Mas achei que para uma coisa tão pequena não ia comprar materiais novos – saía muito caro e lá ia ficar com mais um montão de sobras.
O dispositivo de origem era o habitual neste tipo de engenho (foto 01)
Além dos inconvenientes que aponto acima, o ponteiro era uma desgraça, não parava de andar à roda, e caía com toda a facilidade.
O dispositivo que construí (foto 02):
Utiliza uma haste lisa de 6mm, um bloco deslizante que pode ser fixado por aperto na haste, e que incorpora um ponteiro, e uma régua graduada com zero ajustável.
O dispositivo é constituído por três sub-conjuntos
Conjunto da haste (foto 03):
A haste (vareta de aço de 6mm) é roscada M6 em baixo, para a fixar ao “prato” de plástico do engenho, e em cima para montar uma porca para evitar que o bloco móvel saia inadvertidamente por cima. Na parte de baixo, que vai apertar contra o “prato”, colei com epóxi uma porca de falsa anilha para distribuir melhor a carga de aperto.
O corpo do casquilho é de zamac, encasquilhado com um tubo de latão para reduzir o desgaste (se o meu torno Unimat estivesse em condições, teria feito o casquilho em aço). Como a função é simplesmente guiar e dar um pouco de suporte à haste, e como o engenho em si mesmo tem um certo número de folgas, o casquilho está propositadamente folgado em relação à haste (diâmetro interior do casquilho 6,3~6,4mm, diâmetro da haste 5,9~6,0mm). O casquilho tem um ponto para o fixar à carcaça do engenho com um perno roscado (visível noutras fotografias). O traço marcado era para para indexar o ponto com o furo do engenho; só depois de já estar feito verifiquei que não é necessário.
Utilizei uma porca de união M6 para montar a haste no “prato” porque pretendo mais tarde montar na parte inferior uma antepara de segurança (a de origem era uma verdadeira desgraça e há muito tempo que a retirei). À cautela, como todo o aparelho vibra muito, montei parafusos de fixação M3 nesta porca para reduzir as probabilidades de a haste e o acessório que venha a montar por baixo se desapertarem, além de que utilizei verniz anaeróbico em todas as roscas.
Conjunto do bloco móvel (foto 04):
O bloco móvel é de alumínio de baixa liga. É longe de ser o material ideal (macio demais e pouco elástico), mas era o que tinha com dimensões aproveitáveis. Com excepção dos furos, feitos com o engenho, todo o bloco foi feito à serra e lima, daí não estar muito perfeito. Um furo de 6mm para a haste, um furo de 6mm para alívio de tensões na zona sujeita a maior tensão no aperto, um rasgo feito à serra (vê-se logo, está torto, já não tenho mão, nem vista, nem paciência, para trabalhar como há uns anos…). Um furo transversal para o parafuso de aperto. Dois furos roscados M3 para montar o ponteiro. O parafuso de aperto e o manípulo (?) foram aproveitamentos de antigos equipamentos estragados – nunca deito nada fora sem primeiro desmontar e ver se há peças que possa guardar para uso futuro.
Para o ponteiro, usei uma pontinha de cantoneira de alumínio de 2mm de espessura.
Antes de começar fiz um desenho em SketchUp para ver se tudo jogava certo (foto 05):
Nota:
as fotos 06 a 08c mencionada no texto que se segue vão, devido às restrições relativas à quantidade de anexos, num post que envio seguidamente.
Régua graduada:
Cortei de uma régua flexível inox Stanley 35-521 (foto 06) (não procurem, já não é produzida há anos), que tinha comprado há uns 15 anos para usar noutro projecto que acabei por não realizar; finalmente encontrei um uso para ela.
Depois de cortada ao comprimento correcto, abri dois rasgos com um disco abrasivo Dremel para poder ajustar o zero quando montada.
A régua é fixada no corpo do engenho com dois parafusos M3. Óbviamente, tive que furar e roscar o corpo do engenho (foto 07).
O furo adicional que se vê nesta fotografia, em baixo à esquerda, leva um perno roscado M4 para fixar o casquilho.
Algumas fotografias do processo de “fabrico” do ponteiro nas fotos 08a, 08b e 08c.
Tenho mais projectos de modificações na calha para este engenho, o primeiro dos quais será provavelmente mudar a localização do interruptor – não estou nada feliz com a localização actual.
A menos, é claro, que me caia do céu uma pipa de massa. Se isso acontecer (um enorme “se”…) compro um Bosch PBD 40 e mando este às urtigas…