Bem vindo
Lembro-me perfeitamente das "cegonhas", não me lembrava que também eram chamadas picotas. Viam-se muitas por esses campos fora quando eu era miúdo.`
Nunca vi fabricar nenhuma, e passaram-se muitos anos para me poder lembrar agora de pormenores construtivos, tais como o diâmetro do eixo do braço da picota. Por isso, não o posso ajudar directamente mas talvez possa sugerir algumas pistas para pesquisa.
A forma da ferramenta sugere que servia para furar, mas pelo tipo de ponta não me parece que fosse para furar madeira - exigiria muito esforço, a menos que fosse feito primeiro um furo-piloto de menor diâmetro; é possível.
O diâmetro do furo transversal parece-me pequeno demais para servir para enfiar um cabo transversal, a menos que fosse de ferro (e mesmo assim...) e que o esforço fosse relativamente pequeno. Isso não me parece compatível com a execução de um furo de 7 cm de diâmetro em madeira, mesmo muito macia - e não me parece que a madeira dos braços das picotas pudesse ser tão macia como isso. Mas os "pés" ou os garfos de apoio do braço talvez pudessem ser mais macios. Seja como for, para esta ferramenta ser utilizada para furar madeira penso que deveria ter de ser feito um furo-piloto - mas não posso "jurar" sobre isto, porque há ferros em forma de "concha" que servem para furar ou fresar.
É possível que o furo transversal servisse apenas fixar uma extensão ou encabadouro; isso já seria compatível com um furo de diâmetro relativamente pequeno.
Também é possível, como sugere o pajo, e até pelo tamanho, que servisse para furar terra - por exemplo para os pés da picota, ou mesmo para sondagens. Para ser útil nessa aplicação precisaria provávelmente de ter um encabadouro relativamente comprido; penso que não seria impossível, mas isso deveria implicar ter de retirar frequentemente a ferramenta do chão para permitir evacuar a terra, porque o canal de passagem em torno do encabadouro seria algo estreito (o encabadouro teria de ser relativamente grosso para resistir ao esforço de torção).
A hélice das "navalhas" tem um passo relativamente longo. Parece-me longo demais para abrir um furo em madeira, mas não para alargar à dimensão final um furo em madeira, funcionando um pouco como um mandril.
Penso que as marcas "picadas" dos lados se devem à fase final do processo de fabrico - viragem das navalhas (teria de ser a fase final porque, sendo a peça forjada, estas "picadas" não poderiam ficar tão nítidas se fossem feitas numa fase anterior). São regulares demais, na forma, nas dimensões, e no sentido, para serem efeito da utilização. Por outro lado, as navalhas são relativamente finas e, mesmo assim estão em muito bom estado. O que me sugere que, ou é uma ferramenta "nova", no sentido de não ter sido usada ou ter sido muito pouco usada, ou não era utilizada para abrir furos em terra - haveria marcas mais visíveis nesse caso.
Pesado isto tudo, e a ter de facto servido no fabrico ou instalação de picotas, pendo mais para se tratar de uma ferramenta utilizada para acabamento de furos em madeira - ou seja, para o furo do eixo do braço da picota e/ou para os suportes. Mas posso estar redondamente enganado. Já agora, se por acaso vier a descobrir, gostaria muito que pusesse aqui essa informação.
Se está realmente interessado em saber, sugiro que comece rápidamente a procurar ferreiros antigos de província, porque já não deve haver muita gente que se lembre de como essas ferramentas eram feitas ou para que serviam.
Para dar uma ideia da diferença entre a função "furar" e a função "alargar o furo", junto algumas fotografias tiradas da internet de ferramentas que têm ambas as funções. Repare como a hélice da ponta - função furar - é tão diferente da do corpo - função alargar. A designação inglesa destas ferramentas é "gimlet" - pesquise "gimlet bit" na internet - que em português corresponde a verruma, mas aquilo a que cá vulgarmente se chama verruma é uma ferramente de tipo algo diferente.
Mais do que isto não posso comentar, mas como já disse agradeço que se descobrir com certeza função dessa ferramenta estou interessado em saber (apenas curiosidade técnica, certamente não coleccionística)