Autor Tópico: Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina  (Lida 6428 vezes)

GLFaria

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Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 00:39:14 am »
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Esta “dissertação” foi originada pela expressão “comprar uma plaina decente” do mbernardes. Como vou estar fora durante o mês de Agosto (não que não vá ter acesso à internet – não acredito é que vá ter vontade de ligar o computador…), achei que bem podia escrever uma “peça” de despedida para férias… Não é nenhum tratado (embora seja comprido, como habitualmente são os meus…), mas admiti que duas ou três pessoas pudessem saber ainda menos de plainas do que eu.
Antes de mais, uma advertência: na minha opinião (admito que discutível, mas quem quiser arriscar compre uma…) as Stanley não são actualmente, de modo nenhum, plainas de qualidade minimamente aceitável (notar que nem sequer digo de boa qualidade). De há pelo menos cinquenta anos para cá a qualidade da Stanley tem piorado constantemente, e nem mesmo as Bailey (já para não falar das Handyman…) de princípios dos anos 1970 podem ser consideradas realmente boas (tenho em minha casa duas Stanley Bailey #3 dessa época; ambas têm exactamente os mesmos problemas). Não me lembro de ver nenhuma que não tenha alguns problemas recorrentes; mas pode ser que eu seja excessivamente jovem para poder ter visto alguma genuinamente boa (segundo dizem, havia-as muito boas… até alguns anos depois do fim da 2ª guerra mundial; mas nessa altura eu ainda era miúdo demais para me interessar). A Stanley tem imerecidamente gozado, pelo menos em Portugal, de uma reputação de qualidade que, a meu ver, só pode ser atribuível a um apego nacional à tradição…e à importância que se pode dar um nome…
Querendo comprar um a plaina nova decente, há que contar gastar pelo menos cento e muitos euros. Claro, quem queira comprar uma plaina garantidamente boa e possa gastar aquilo que eu considero uma fortuna, a única dificuldade que terá, se assim se pode dizer, estará na escolha de uma (ou mais) entre várias marcas e um (ou mais) entre vários modelos.
Um bricoleur de meios mais ou menos modestos tem que fazer opções. Não sei que marcas decentes haverá no nosso mercado; só tenho visto Stanley ou pior, mas também não tenho andado à procura. Comprando “lá fora”, e apenas baseando-me na boa impressão e na experiência que tenho da minha plaina de topos Juuma, diria que a versão desta marca na dimensão #4 (comprimento 25cm, ferro de 2”) é capaz de ser interessante. Ver na Dieter Schmid: http://www.fine-tools.com/eputz4.htm
O problema é que… ao preço indicado (109 euros) há que acrescentar 19% de VAT (o IVA…) e os portes (no caso da minha, que é mais pequena, foram 16,50 euros. Como a nº 4 é mais pesada, os portes serão provavelmente mais caros). Tudo junto, penso que seria necessário contar com pelo menos 150 euros – pelo que me toca, começa a estar perigosamente perto do qualificativo “fortuna”, mas duvido que se consiga uma plaina realmente decente, nova, por menos do que isso (as Kunz verdes vendidas na mesma loja, muito mais baratas, são para esquecer)
Uma alternativa interessante é procurar plainas usadas em bom estado nas feiras de velharias. Como hoje em dia, no nosso encantador país, o mercado das plainas manuais está muito em baixo – ou seja, quase ninguém as quer, toda a gente quer o luxo de equipamentos mecânicos - é possível que se consiga arranjar por um preço em conta alguma coisa que, depois de devidamente recondicionada com um bocado de trabalho, e afinada, possa fazer bom serviço. Tem é que se estar preparado para ter algum (por vezes bastante) trabalho (para dar uma ideia, pôr a minha Stanley Handyman #4, reconhecidamente ordinária, em condições minimamente aceitáveis foi trabalho para cerca de uma semana, várias horas por dia). Mas isso já é bricolage, não é?
Foi assim que comprei a minha Bailey nº3 (uma plaina do mesmo comprimento da nº 4, mas 5mm mais estreita, portanto mais leve) – custou só 25 euros, mas vou ter um trabalhão para a pôr em condições. Além de uma boa limpeza e eliminação dos pontos de ferrugem, tenho que fazer um punho traseiro novo (e já agora um dianteiro, para as madeiras ficarem a condizer…); além disso, depois de uma limpeza preliminar descobri uma fenda minúscula, que espero sinceramente não alastre, junto a um dos cantos traseiros da boca. Como não vai ser para uso intensivo…
Alguns pontos a ter em atenção em qualquer plaina, nova ou usada:
- planimetria do rasto (verificar com uma régua no sentido do comprimento, da largura, e nas diagonais)
- rasto empenado – não há volta a dar-lhe, não comprar
- zona do rasto imediatamente adjacente à parte dianteira da boca – é crítica; por vezes pode ser corrigida, mas dá garantidamente muito trabalho (eu que o diga…); nunca encontrei nenhuma plaina ordinária – nem nenhuma Stanley, lá por isso – que não tivesse problemas nesta área.
- lábio dianteiro da boca em más condições – irregularidades, não perpendicular ao eixo da plaina, inclinado “para trás”  – se for possível corrigi-lo com uma lima sem ter de remover muito material, pode ser; senão, não comprar.
- estado do rasto – desde que seja plano e desempenado, o estado da superfície só é importante porque quanto mais rugoso for mais facilmente cria ferrugem; mas é uma questão que pode ser facilmente corrigida com lixa sobre uma superfície plana (uso vidro de 8mm)
- fendas visíveis, especialmente nos lados da plaina – não comprar
- boca ajustável – é muito desejável; geralmente, as que não têm boca ajustável têm-na aberta demais, o que não permite obter um acabamento realmente bom.
- sistema de nivelamento do ferro – também muito desejável, a menos que se tenha a certeza que se consegue afiar o ferro sempre à esquadria e que o sistema de montagem do ferro na plaina permita assegurar que o ferro é sempre montado à esquadria – não é coisa para uma plaina barata…

Claro que há muito mais a dizer sobre o assunto; mas para quem quiser saber mais há muito por onde estudar; isto é só para quem quiser comprar uma plaina à pressa e não saiba por onde começar…

Para quem possa, os meus desejos de boas férias; para quem não possa, toda a minha solidariedade!

mbernardes

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Re:Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« Responder #1 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 01:33:49 am »
Muito obrigado pelo topico, já estou a ver que terei que dar uma volta nas feiras de velharias aqui na zona a procurar uma plaina, o meu pai tem bastantes velharias em casa (é um acumulador não coleccionador porque não faz ideia das coisas que acumula por vezes, a maior parte é de origem agricola) tenho que por lá ver se terá algo de jeito, pois nem ele percebe nada de plainas (é electricista Auto).

Já estou a ver que uma plaina nova (nem fazia ideia que podiam ser tão caras) fica uma pequena fortuna dificil de justificar á gerencia hehe

GLFaria

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Re:Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« Responder #2 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 01:47:24 am »
Bem, estava apensar em si quando escrevi isto...  ;)  Como estava a pensar algum dia comprar uma plaina, achei que não era mau saber ao que ia, para não fazer os mesmos erros que eu já fiz (pode fazer outros, mas então agradeço que os conte para eu também aprender...  :D)

ruidomingos

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Re:Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« Responder #3 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 09:06:57 am »
Pois eu também estava para comprar uma, mas depois de ler o seu tópico... parece que vou ter que adiar, existe outras coisas que estão à frente :)

Muito obrigado pela sua disponibilidade e ajuda.

cerdeira

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Re:Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« Responder #4 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 11:02:21 am »

eu comecei com uma handyman manhosa, mas na altura nem me apercebia disso. só qdo começamos a ser mais proficientes e exigentes com os resultados é q os
defeitos das ferramentas vêm à baila.

IMO, qdo nos iniciamos é mais importante aprender a afiar o ferro do q ter uma plaina com boca ajustável ou com rasto plano com uma tolerância de centésimas de mm.
pelo menos comigo, qdo atinei com um gume aceitável, a plaina começou a funcionar dum momento para o outro. esmilhava o veio às vezes? sim. conseguia uma face perfeitamente plana (e.g. para colar) de forma rápida? não. mas com um pouco de paciencia ia dando para fazer de forma mto aceitável os trabalhos q lhe eram colocados

aliás logo nessa altura apercebi-me q a plaina manual funcionava mto melhor q a plaina electrica portátil em termos de controlo e acabamento, a ponto de nunca mais usar a plaina electrica excepto para remover tinta de tábuas velhas q pretenda reutilizar (as tintas e as subcapas arruinam com o gume das ferramentas rapidamente)

GLFaria

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Re:Apontamentos pessoais sobre a compra de uma plaina
« Responder #5 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 15:51:03 pm »
Só comecei a ter resultados aceitáveis com a minha Handyman depois de rectificar (à lixa...) o rasto, especialmente a parte imediatamente adjacente à boca, do lado da frente, que sofria muito do defeito apontado em 2º lugar no "boneco". Era pior do que a planimetria total em si mesma, e obrigou-me a remover muito material. A diferença na facilidade da afinação e na qualidade do acabamento foi espantosa, passei de usar a plaina como recurso para passar a usá-la sistematicamente, e com gosto.
Aproveitei essa ocasião para pôr os lados a 90 graus (mais ou menos) com o rasto, embora para o que faço não lhes dê muito uso.

O principal problema que tenho actualmente com esta plaina é a folga do parafuso de afinação da profundidade de corte, que exige um certo hábito. Já tive que lhe dar um aperto (muito cauteloso) na canga, para reduzir isso um pouco. Mas um manípulo de plástico nunca vai longe... De qualquer forma, está suficientemente boa para não sentir realmente a necessidade de arranjar outra do mesmo tamanho. Mas, claro está, se algum dia ocasião surgir e puder comprar uma verdadeiramente boa...

Concordo que uma plaina mal afiada é pouco mais que uma espátula montada num suporte... Qualquer pessoa que queira utilizar ferramentas de corte manuais tem forçosamente de aprender antes de mais nada a afiar pelo menos razoavelmente. Eu não afio bem, só razoávelmente, e mesmo assim preciso de usar uma guia, senão não vou lá.