Autor Tópico: Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional  (Lida 7888 vezes)

GLFaria

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Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« em: Quinta, 11 de Julho, 2013, 19:30:08 pm »
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Quando é necessário resolver um problema ou atingir um objectivo, não é boa ideia ficar parado com o pensamento que “a maneira “correcta”, ou melhor dizendo, “ortodoxa” de resolver isto é esta, sempre foi, portanto como não tenho meios ou conhecimentos para resolver a questão da maneira considerada aceitável então espero até ter os meios e conhecimentos, e até lá não faço nada”. Geralmente – e isso pode ser ou não grave conforme o caso de que se trate - o objectivo fica por atingir, porque entretanto nos vamos ter de dedicar a outras coisas.
Isto não exclui que se deixe de estudar ou aprender as melhores técnicas ou práticas – é necessário é ter em conta até que ponto queremos ou necessitamos atingir o objectivo num determinado prazo ou com determinados custos.
A História dá-nos milhares de exemplos ao longo dos milénios, dos quais vou dar um exemplo concreto. Vou também relatar um pequeno episódio passado comigo há alguns anos.
Primeiro exemplo (grande, estratégico):
Depois de ter sido invadida três vezes ao longo de um século pela Alemanha, a França resolveu que era tempo de fazer alguma coisa para impedir que isso voltasse a acontecer. Em meados dos anos 1930 começaram a construir uma linha de defesa impressionante, verdadeiramente brutal, de fortificações ao longo da fronteira franco-alemã – a linha Maginot. As fortificações iam desde a fronteira com a Suíça, a Sul, até à fronteira com o Luxemburgo, a Norte. Era uma linha construída em profundidade, incluía uma rede de túneis por onde as tropas, as munições e os abastecimentos eram transportados por comboios eléctricos, tinha ar condicionado, alojamentos, refeitórios. Era efectivamente inexpugnável para os meios de militares da época.
Havia uma pequena interrupção, ou melhor atenuação, das fortificações na zona do maciço e floresta das Ardenas, que eram considerados intransponíveis – nunca exército nenhum na História tinha conseguido transpor as Ardenas. Por outro lado, a Bélgica e o Luxemburgo eram países amigos, não havia razão para fazer na respectiva fronteira fortificações tão complexas e tão caras, e ainda por cima em terreno alagadiço.
O raciocínio francês foi muito linear e muito ortodoxo: “nunca um exército em ordem de combate conseguiu passar as Ardenas, e os alemães certamente nem sequer o vão tentar; por outro lado, para invadirem pelo Norte teriam de começar por invadir a Bélgica e atravessar o Luxemburgo, o que politicamente é impensável; portanto, esta é a solução correcta, estamos bem defendidos e nunca mais nos invadem”
O resto á sabido. Os alemães resolveram mesmo invadir a França, e como não podiam ir de frente tinham que arranjar outra solução - atravessaram efectivamente as Ardenas, e ao mesmo tempo invadiram a Bélgica. E a França lá foi novamente invadida pela Alemanha.
A solução teórica dos franceses era tecnicamente muito interessante e correcta – mas não contou com uma abordagem não-ortodoxa e não-clássica dos alemães. Quanto à linha Maginot, nunca foi atacada. Os alemães consideraram que seria uma perda de tempo e de meios – as fortificações eram efectivamente inexpugnáveis para os meios militares da época - e ainda lá está para amostra, com custos de conservação elevadíssimos (mas é tão forte que não é possível demoli-la)

Segundo exemplo (pequenino, prático):
Há anos o meu sogro quis retirar os quatro rodízios metálicos, cravados, de uma antiga mesa metálica de consultório. Os rodízios estavam cravados nas extremidades das pernas da mesa, em hastes de uns 8mm de diâmetro com a ponta bem martelada.
Estava lá um tio da minha mulher, que sempre tinha trabalhado como técnico em fábricas de metalomecânica, e que era aliás um excelente técnico de produção. E estava lá eu, com alguma prática industrial mas ainda pouca, mas com muita prática de resolver pequenos problemas de ordem… prática, passe a redundância.
O tio declarou que a maneira tecnicamente correcta de cortar a cabeça de uma peça cravada era com um escopro e um martelo. Efectivamente, é a maneira mais rápida – se as ferramentas e o suporte forem do tamanho e peso adequado. Havia um escopro não muito grande, talvez uns 20 ou 25cm, e um martelo relativamente ligeiro; quanto aos suporte –as mãos e o chão; mas resolveram atacar com isso.
Eu objectei que com aquelas ferramentas não ia dar, e que como tínhamos uma lima bastarda grande era preferível limar a cabeça da haste. Mas como não era a maneira tecnicamente correcta, e “o tio tem mais experiência e sabe como é que se faz…”, decidimos que elas iriam atacar as cravações de duas das rodas com o escopro e martelo, e eu iria tratar das outras duas com a lima.
Vinte minutos depois de eu ter descravados as minhas duas rodas, ainda estavam a bater na desgraçada da primeira deles.

Isto tudo para dizer – quando tiverem de resolver um problema, não se deixem limitar pela ortodoxia. Se não tiverem os meios ou conhecimentos técnicos adequados para, naquele momento, atingir o objectivo da maneira “correcta”, pensem em alternativas exequíveis. Não serão provavelmente as melhores ou as mais elegantes, mas se resolverem o problema satisfatoriamente o objectivo terá sido atingido.

Sem prejuízo de preparar melhor – estudando e praticando - uma futura actuação.

pajo

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #1 em: Sexta, 12 de Julho, 2013, 00:13:30 am »
Amantes da bricolage.
Acabei de ler este post do GLFaria, e fez-me lembrar de umas quantas teimas que tive com o meu pai, quando trabalhava-mos em conjunto! (coisas de familia)

Acho que este comentario é um incentivo á imaginação. Em bricolage, não faz mal inventar um pouco! -Desde que: Se calcule os riscos que se correm.

Já abandonei muitos projectos por não ter condições para os executar (nem com invenções)
Mas se não estivesse sempre atento, pesquisa-se pergunta-se em suma, se não fosse um chato curioso. Não tinha nem metade dos trababalhos que tenho feito


Se não sabes? -não mexas!
Se não gostas? -não estragues!
Mas isso, NÃO TINHA PIADA NENHUMA!!!

GLFaria

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #2 em: Sexta, 12 de Julho, 2013, 02:45:57 am »
A meu ver, a imaginação é uma parte necessariamente ligada ao espírito da bricolage. Não consigo imaginar um bricoleur que não seja imaginativo.

O que eu quero realmente dizer é - não se deixem prender ou paralisar pelas soluções convencionais. Se não as puderem usar, considerem isso uma oportunidade para "inventar" outras que funcionem (e mesmo que as possam utilizar, que mal há em procurar outras? É assim que a Humanidade progride! E, como dizia um personagem de banda desenhada - "Eu adoro a Humanidade; o que realmente detesto são as pessoas!")

(concordo com o pajo quando acrescenta "desde que se calcule os riscos que se correm"; mas a verdade é que eu cresci numa época em que a preocupação com os riscos não era tanta como agora...)

ruidomingos

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #3 em: Sexta, 12 de Julho, 2013, 08:56:06 am »
Eu acho que a imaginação é importante em qualquer trabalho ou na presença de um problema. Pois é através da imaginação que muitas vezes ultrapassamos muita coisa que nos aparece à frente. O GLFaria disse-o muito bem, por vezes temos que sair do pensamento "quadrado" e procurar na nossa mente outro tipo de pensamento.

E nestas coisas de bricolar então nem se fala... até porque o conceito de Bricolage está "implícito" a imaginação :)


gabriel_rocha

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #4 em: Sexta, 12 de Julho, 2013, 11:14:33 am »
Excelente conselho do amigo GLFaria, eu com base na minha parca experiência acrescentaria, nunca desistam, inventem, mas não desesperem, não se deixem levar pela frustração ou pela ira de não conseguir, eu quando estou na minha bancada e algo não "está a sair", apago a luz, fecho o portão da garagem e amanhã é outro dia. Para mim, não vale a pena insistir quando só conseguimos ver problemas, com calma e alguma distância começamos a ver soluções, por pouco ortodoxas que sejam e sim como o pajo referiu e bem, com o mínimo de certezas em relação à segurança do que vai fazer, mas arriscar é metade do gozo! Quando correr bem dá uma satisfação danada, quando corre mal... é experiência que se acumula!

"And God said - let there be LED, and there was light" ;)

pajo

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #5 em: Sábado, 13 de Julho, 2013, 00:24:25 am »
Olá gabriel_rocha, á uns dias que não o via por aqui!

Realmente o que diz é verdade: A almofada é uma boa conselheira!

Á uns tempos tinha planeado reapertar a cabeça e afinar as valvulas do pagero.
Mas a minha sogra tinha feito uma feijoada para o almoço e eu comi que nem um "bacro"
Depois de almoço, cheio que nem um porco, lá comecei a tarefa, 1º reapertar a cabeça, foi menos mal. Já afinar as valvulas o carro e muito alto e tgenho de me esticar todo em cima do "mata vacas" para lá chegar, ainda por cima estava um calor brutal.

O problema foi rodar o motor para por a ponto, não me apeteceu ir á cambota que ficava lá em baixo e pus a chave lá onde me pareceu e já esta. Continua-se a tarefa.

Depois de tudo montado,ponho o motor a trabalhar e quase parecia uma G3 em rajada.
Pensei logo :-Já fiz me##a!
Imediatamente fui rever todos os passos que tinha feito, uma o outra vez. Nada de mal, parecia tudo certo.
A ultima vez já éra de noite e decidi ir para casa e recomeçar no outro dia de manhã.
Em casa com calma voltei a rever todos os passos no pdf do manual da marca.
E não identificava erro nenhum, a mjnha mulher diz que eu até estava sem cor.
E tambem me deu de conselho ir dormir que de manhã com a cabeça fresca eu resolvia o problema.
No outro dia de manhã bem cedo voltei á "carga"
Comecei por rodar o motor novamente para por a ponto, tirar tampa das valvulas e reparo, por acaso, que a polia da bomba injectora não estava bem na marca, e vou rodar novamente a cambota para acertar os pontos.
Mas a cambota batia certo.
~Há,ha!!!! Eureka, apanhei o gato. 30' depois já roncava normalmente!
Eu com a pressa e preguiça de me esticar em cima do motor, rodei-o pela bomba injectora (asneira da grossa) o que fez a correia de distribuição saltar um dente, sem que desse por isso
Safei-me de boa,mas p+odia ter corrido muito mal. €€€€€€€€€€€€€
Ficou de emenda -Rodar motor sempre pela cambota!
« Última modificação: Sábado, 13 de Julho, 2013, 00:26:08 am por pajo »
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Mas isso, NÃO TINHA PIADA NENHUMA!!!

mbernardes

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #6 em: Sábado, 13 de Julho, 2013, 01:24:04 am »
A minha mulher queixa-se que demoro muito tempo a fazer alguma coisa, normalmente perco muito tempo a imaginar os projectos e mesmo quando os estou a fazer penso bastante nisso, tanto que a maior parte das vezes a versão acabada é diferente da versão inicialmente pensada, dormindo sobre o assunto no dia seguinte as ideias surgem.

No meu trabalho, quando aparece um problema ou avaria temos que ser um pouco criativos e quando começa tudo a ficar maluco e a entrar em panico, a minha primeira atitude é para beber um café, começam a mandar vir comigo, mas no fim do café a malta acalma e os problemas resolvem-se naturalmente, Pajo também já tive situações parecida, parece o fim do mundo andamos ali horas e horas para resolver um problema, fazemos uma pausa ou uma soneca e em 10 minutos resolvemos o problema.

Teimas com o meu pai tive muitas, quando trabalhava com ele na oficina, era miudo e tinha ideias proprias, mas o meu pai sempre tentou ensinar através dos metodos dele (pouco flexiveis), ainda por cima eu sou destro e ele canhoto, não foi facil... mas muitos ensinamentos e valores me servem hoje em dia no meu trabalho, que não se aprendem na escola!

mbernardes

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #7 em: Domingo, 28 de Julho, 2013, 09:35:49 am »

ruidomingos

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #8 em: Quarta, 31 de Julho, 2013, 15:03:46 pm »
Não tem nada haver...

mas por ver ai o mestre Einstien sabiam (se calhar sim) que quando ele morreu o médico retirou-lhe o cérebro e que ainda hoje é estudado?

Fiquei impressionado com a capacidade deste cérebro, intelectualmente já conhecia mas morfologicamente não... e não é que o mestre tinha o cerebro baste mais desenvolvido que o normal!!! e ainda hoje é um mistério.

pronto é isto :)

Cumps


mbernardes

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #9 em: Quarta, 31 de Julho, 2013, 17:54:22 pm »
Por acaso sabia, sempre me intrigou essa grande mente com todas os desenvolvimentos e teorias, outro que também admiro muito foi o Edison com todas as suas invenções praticas e de uso diário, foi um grande bricolas hehe

GLFaria

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #10 em: Quarta, 31 de Julho, 2013, 19:42:28 pm »
É, de vez em quando lembravam-se de tirar o cérebro a algum desgraçado (génios ou outros) para tentar descobrir como funcionava. Não sei se essa prática ainda existe. Claro que, se houver lesões ou modificações físicas, aparentes ou não, dá-se por elas.
O problema, quando se quer saber porque é que um sujeito é génio, é que nem sequer se sabe ao certo o que procurar. Apesar dos avanços todos da ciência, está-se muito longe de saber como funciona o cérebro.

Ainda por cima o corpo humano, e em particular o cérebro, funciona à base de química (a electricidade é gerada pela química). Quando morre, os processos químicos são alterados. Qual é a relação, se é que existe alguma, entre os processos químicos que se dão enquanto o cérebro está vivo e depois de morto? E até que ponto é que as técnicas de conservação alteram as características de um cérebro? As únicas coisas que se podem constatar, após a morte, são provávelmente eventuais diferenças físicas (por exemplo, o número de sinapses nervosas em determinadas regiões bem definidas e limitadas). Mas isso é só uma parte muito limitada da "fotografia" de um cérebro.

Felizmente, as intervenções no cérebro, pelo menos pelo que me toca, estão fora do campo da bricolage  ;). Mas com o Edison acho que até me poderia entender bem (não sei se o homem teria um feitio fácil, mas creio que nem por isso...)

ruidomingos

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #11 em: Quinta, 01 de Agosto, 2013, 08:17:54 am »
As intervenções no cérebro sim, estão fora da bricolagem, mas é ele que nos permite intervir na bricolagem  ;D

Sim é verdade que quando se morre existem várias alterações a nível químico no cérebro... mas eles conseguiram ver que o homem tinha uma actividade muito grande devido a um numero elevadíssimo de células glias, que quanto mais se tem mais sinapses existem... E para os investigadores o cérebro estava mais desenvolvido devido ao facto de ele estar grandes períodos só a pensar (até se esquecia de comer)...

Agora imaginem este homem na bricolage, ideias não lhe faltavam....  ;D

Sim o Edison era bricolas, por vezes gostava de ver como é que aquela malta trabalhava... ;D as experiências que faziam e de como chegavam ao resultado final.

Cumps

mbernardes

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #12 em: Quinta, 01 de Agosto, 2013, 18:58:43 pm »
Nesta altura de crise deve haver um boom no tamanho do cerebro, que o pessoal farta-se de pensar como dar a volta ás contas de casa :(

Realmente era engraçado de ver os processos criativos daquela altura, agora é do informatizado, outras tecnologias, que também nos condicionam a forma de pensar.

ruidomingos

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Re:Pensar de forma não-ortodoxa ou não convencional
« Responder #13 em: Sexta, 02 de Agosto, 2013, 09:19:56 am »
Esta nova era como tudo tem as suas vantagens mas também tem desvantagens e é verdade limita muito o pensamento e o raciocínio.